“Ronara, você já passou por alguma situação de preconceito ou machismo no campo?” Eu recebo esse questionamento em quase todas as palestras que faço. E antes de revelar a minha resposta, gostaria de convidar você a refletir comigo sobre a frase do querido Mário Sergio Cortella: “o contrário de machismo é inteligência”.
Sabemos que o machismo no agronegócio existe e, apesar de não ser um desafio exclusivo do mercado agro, muitas mulheres do agro já passaram por situações em que foram consideradas inferiores, menos competentes ou injustiçadas pelo simples fato de serem mulheres.
E como ser inteligente nessa hora? O que o Cortella quer nos dizer com sua sábia – porém desconfortante – frase?
Pela minha experiência, ser inteligente (em relação ao machismo ou qualquer outro tipo de preconceito) é ressignificar e focar na solução. Não conheço o autor da frase, mas ela cai muito bem neste contexto: “não é sobre o que fizeram com você, mas o que você faz com o que fizeram com você”. É claro, que não é um processo fácil, muito menos indolor. Porém, é um caminho bastante inteligente.
Ao dar novos significados a situações como essas, temos a possibilidade de nos tornarmos autorresponsáveis, passamos a assumir o controle, a não ficamos vulnerável à ação do outro sobre nós. E sim! É uma escolha e ela sempre será nossa.
Para exemplificar, trago a história real de três mulheres negras, Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, que em 1961 trabalhavam como os “computadores humanos” da Nasa e foram responsáveis pelos cálculos que levaram o homem ao espaço. Essa história está retratada no filme Estrelas Além do Tempo.
Esse filme é muito impactante, pois além de enfrentarem o machismo, elas ainda precisavam lutar contra o preconceito racial. E o que elas fizeram? Foram extremamente estratégicas.
Mary ganhou na justiça o direito de ser a primeira mulher negra a cursar pós-graduação na Universidade da Virgínia, Katherine, com seu talento em matemática, foi convidada a se juntar a uma equipe composta apenas por homens e ajudar na pesquisa de voo e Dorothy tinha um talento nato para liderança e se tornou a primeira mulher negra supervisora de departamento na Nasa.
Quem assistiu ao filme sabe que as histórias dessas mulheres não foram fáceis. Mas elas usaram as estratégias que tinham em mãos e, inteligentemente, revolucionaram o ambiente de trabalho e abriram as portas para a igualdade de gênero em sua geração.
Esse para mim, é um belo exemplo de ressignificação e de foco na solução. Esse é um belo exemplo de reagir de maneira inteligente, mesmo a ações não inteligentes como o machismo e o preconceito.
E para finalizar, respondendo a pergunta no qual comecei essas reflexões, sim. Eu já sofri preconceito por ser mulher no agro, mas também por ser negra no agro e por ser empreendedora no agro (e não ter o brasão de uma multinacional no peito). O que eu fiz com isso? Ressignifiquei e joguei fora! Nenhuma dessas opiniões diziam respeito a mim e a minha capacidade, e sim a essas pessoas e suas próprias limitações. São seres humanos limitados. O meu foco está no meu propósito e na história que eu venho construindo com muita garra, autorresponsabilidade e coragem! Avante!
Ronara Santos Lasmar, Engenheira agrônoma, MBA em Gestão Estratégica do Agronegócio, atua como Coach de Carreiras Agro e é integrante da Liga do Agro.