André Baby, é engenheiro florestal e mestre em sustentabilidade.

O termo “sustentável” é antigo, apesar de estar muito em uso nos últimos anos. A palavra em si deriva do latim sustentare, ou seja, cuidar, sustentar, conservar, suportar. Entretanto, a utilização desta palavra avançou após o Relatório de Brundland no ano de 1987. O relatório foi intitulado como Nosso Futuro Comum e desde então iniciou a discussão sobre o uso sustentável dos recursos naturais e a sua manutenção para usufruto das gerações futuras. Assim, iniciou a disseminação da ideia de desenvolvimento sustentável que vinha sendo debatida desde a década de 70, com a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente em Estocolmo, na Suécia.

O Relatório iniciou debates sobre a pobreza nos países de terceiro mundo e o consumismo elevado nos países de terceiro mundo, portanto, indicando que esses e outros problemas impediam o desenvolvimento igualitário no mundo, e consequentemente, graves crises ambientais. Além disso, havia também dados sobre o aquecimento global, as chuvas ácidas e a destruição da camada de ozônio, temas que eram novos para as discussões da época, inclusive sugerindo à Assembleia Geral da Nações Unidas a necessidade da realização de uma nova conferência internacional para avaliar esses e outros grandes impactos sofridos pelo meio ambiente nos anos anteriores, como perda da biodiversidade e ocorrências de desastres ecológicos de responsabilidades industriais. Recorda-se que que partir desde momento iniciou a primeira tentativa de estabelecer uma série de metas a serem seguidas por nações de todo o mundo para evitar o avanço das destruições ambientais e o desequilíbrio climático, embora eu seja testemunha (por ter participados de 3 Conferências Mundiais para o Meio Ambiente) até os dias de hoje houve poucos avanços e ainda não conseguimos criar um consenso sobre como agir em conjunto em prol do desenvolvimento sustentável, por outro lado vários setores da produção brasileiras e o sistema financeiro global tem buscado um ambiente cada vez mais sustentável e próspero para os negócios.

Assim, o tema desenvolvimento sustentável, sustentabilidade, meio ambiente vêm crescendo, ficando cada vez mais complexo e transversal às diversas áreas da sociedade, das empresas e ciências.

Um dos grandes desafios e oportunidades da SUSTENTABILIDADE é mostrar que não é a mesma coisa que meio ambiente! Contudo, é preciso ter cuidado, pois há muitos mitos e polêmicas nessa questão.

Nossa missão neste artigo é contribuir para que entendamos um pouco mais sobre essas palavras que muitas pessoas confundem não só os conceitos, mas também os usos. Portanto, ao organizarmos essas ideias poderemos debater melhor sobre o que estamos produzindo, empreendendo e negociando.

Precisamos destacar que MEIO AMBIENTE, sobre o aspecto de ciência, é uma área técnica e que várias empresas utilizam para cumprir regras, leis, normativos, ou seja, seria o setor onde realizamos estudos ambientais, físicos, químicos, biológicos ou quando estamos falando do uso dos recursos naturais e a lei nos exige algum projeto para o devido funcionamento da fazenda, da empresa e/ou da indústria, por exemplo, o Licenciamento Ambiental.

Aí você leitor poderia me indagar, Ah! Mas e a gestão ambiental?

A Gestão Ambiental é mais que um quesito legal, portanto, fundamentada em gerenciamento, monitoramento e controle de indicadores ambientais de empresas e gestão de projetos que devem suportar a manutenção das licenças, o uso dos recursos naturais e manter os parâmetros autorizados, outorgados, conforme estabelecido no licenciamento, visa, assim, o uso de práticas e métodos administrativos com objetivo de reduzir ao máximo o impacto ambiental das atividades econômicas de uma organização sobre o uso dos recursos naturais.

A Sustentabilidade na atualidade deve ser enquadrada como uma área voltada para negócios! 

Enquanto a gestão ambiental busca a eficiência e a inteligência do processo produtivo por uma dimensão, a sustentabilidade trabalha a sua relação com o negócio de forma multidimensional, complexa e holística.

Assim, destacamos que o olhar da gestão ambiental é para a empresa/fazenda/indústria, e o seu entorno. A sustentabilidade possui uma visão para as interfaces do negócio.

Desse modo, podemos classificar a gestão ambiental como tático e operacional, já a como, principalmente, a estratégia da empresa, do negócio em si.

Como contextualização, imaginemos a sustentabilidade na área de suprimentos. O empresário do campo ou da cidade imprime classificação de criticidade, parametrização, treinamento, desenvolvimento de fornecedores, economia local, supply chain, etc.

Será que isso é meio ambiente ou negócios?

Outro exemplo: a área comercial quer identificar tendências de sustentabilidade para impulsionar novos mercados. É o responsável pelo setor de meio ambiente que vai analisar cenários, custos, lucros, fatores sociais, ambientais, plano de negócios, plano de mídia?

Imagine ainda a situação do engajamento de profissionais, da cultura de sustentabilidade, gestão do conhecimento, BI (Business Intelligence), relacionamento com investidores, com fornecedores, com consumidores… é o profissional de meio ambiente que tem o perfil para trabalhar com isso? Aqui creio que esteja ficando claro o seu entendimento. Não, não é o profissional de meio ambiente.

Ainda assim, o leitor pode estar imaginando… mas na empresa em que eu trabalho o setor é de meio ambiente, mas o meu cargo é de sustentabilidade.

O uso dos recursos profissionais humanos e a distribuições para este caso está equivocada. Entretanto, em empresas menores, tudo bem, nós fazemos de tudo, desde servir café, enviar correspondência, atendimento comercial e assim por diante. Todavia, o que estamos abordando não é somente nomenclatura, mas também escopo, o desígnio, o sentido, a finalidade no âmbito da empresa, da fazenda e da indústria.

Após esse xadrez em entendimento conceitual e de finalidade, se meio ambiente e sustentabilidade não é a mesma coisa, quem é e o que faz, afinal, o profissional dessa área?

Para irmos consolidando o entendimento, qualquer um pode trabalhar nessa área. Sim, qualquer um, desde que esteja preparado para trabalhar com a complexidade, transversalidade de áreas e temas. Qualquer um porque não existe uma educação formal. Logo, todos podem ser, inclusive a pessoa de meio ambiente (biólogo, engenheiro florestal (como eu), engenheiro agrônomo, sanitarista, etc). 

Mesmo qualquer um podendo, o profissional de sustentabilidade precisa ter algumas características: a principal é a visão de negócios. Além disso, há aspectos que envolvem a capacidade de adaptação, o entendimento sobre demandas (novos públicos, novos costumes, novas ideias, novos consumos), olhar para o futuro, ideias sobre expansão e escalonamento de investimentos (aportes, aplicações, acionistas, mercado).

Sustentabilidade é o entendimento do negócio como um todo. 

O profissional de sustentabilidade não sabe tudo, mas adquiri a capacidade de ser generalista. Seu trabalho transcende (cruza, perpassa) às demais áreas, é preciso ter a visão completa de uma empresa, pois terá que debater com setor de comunicação, suprimentos, operação, comercial, RH…

A pessoa da área de sustentabilidade não deve ser o profissional que tenha que saber tudo de recursos hídricos, não é o expert em emissões de gases de efeito estufa, o especialista em resíduos sólidos ou até mesmo ter o conhecimento pleno em soja ou cana de açúcar.

A área de sustentabilidade requer um profissional com visão ampla de muitos assuntos, há a necessidade de entendimento sobre o funcionamento das áreas e transitar muito bem entre elas para que a empresa permaneça em harmonia e obtenha o sucesso almejado respeitando e cumprindo normativos ambientais, utilizando insumos de origem regular, respeitando pessoas intra e extra corpore.

Por fim, aos profissionais da área de meio ambiente, há como trabalhar com sustentabilidade, mas é preciso mais do que fazer gestão ambiental, é uma gestão empresarial otimizada, inovadora com o objetivo de operar de maneira mais consciente. Sustentabilidade apresenta o produto da empresa e os negócios conforme sua essência, metas ambientais, sustentáveis e socialmente responsáveis, aliadas às melhorias da sociedade, dos lucros e de acordo com o cenário corporativo em que estão inseridas, gerando valor compartilhado aos investidores e acionistas.