//Estaríamos agora em um superciclo de commodities?

Estaríamos agora em um superciclo de commodities?

Que os anos de pandemia estão sendo bem complicados fica claro no nosso cotidiano, contudo, no setor do agronegócio, ao contrário da maioria dos demais setores, não houve queda ou congelamento das atividades. Ocorreu exatamente o oposto, o agro não parou um só dia mesmo com vírus, secas e geadas. Prova disso foram os resultados de participação do agronegócio no PIB 2020, de 24,31% do total e as notícias, que tomaram as manchetes e redes sociais do agro, basicamente apontando problemas nas safras, condições climáticas adversas e o aumento significativo do preço das commodities.

Contudo, este último foi o que ficou mais latente na cabeça e bolso dos produtores, a grande valorização dos seus produtos. Nesse período, por exemplo, a @ do boi dobrou de valor, a saca de soja e de milho triplicaram e com isso houve toda a especulação sobre os motivos que causaram tal alteração dos valores. Seria por conta da pandemia? Pela desvalorização cambial? Inflação crescente? Pela produtividade menor nos EUA? Pela quebra de safra no Brasil? Ou, simplesmente, estamos passando por um momento de reajuste dos preços gerais das commodities? 

Alguns especialistas chamam esse momento de SUPERCICLO, no qual os preços atuais e futuros rompem significativamente com a média dos praticados nos últimos anos, devido uma demanda maior do que a de costume. Dessa forma, a oferta é inferior à demanda e, para suprir esse intervalo, as empresas e produtores tentam se apressar para garantir formas de produzir mais.

Dessa forma, notamos um aumento na procura de fazendas à venda, áreas para arrendamento, investimento em maquinários, sistemas de irrigação, infraestrutura de armazéns e tecnologias, bem como contratação de consultorias e especialistas. Lembrando que tais decisões implicam também no aumento do custo de produção, dessa forma, tais atitudes não poderiam ter sido tomadas antes do reajuste dos preços, se não o caixa não fechava. 

Falando em custos, devemos ressaltar que, durante os anos de estagnação nos preços, os custos vinham aumentando, devido ao frete, aparecimento de novas pragas e doenças, imput de novas tecnologias e a oscilação cambial. Ou seja, o reajuste já era esperado, mas por que agora?

Poderíamos chamar esse evento de “tempestade perfeita”, no qual vários acontecimentos ocorreram em conjunto, fazendo assim com que as condições de mercado se alterassem tão bruscamente. Entre tais eventos, a pandemia é claro, chama mais atenção, contudo, antes da COVID-19 se tornar nossa realidade, a China já passava por uma epidemia de gripe suína que diminuiu o plantel de matrizes e consequentemente menor produção de carne suína, implicando numa maior importação de carne e gastos de grãos para alimentação e formação de um novo plantel. Além disso, os estoques de grãos chineses estavam abaixo do seguro para se passar por uma pandemia que restringia circulação de bens e produtos, dessa forma, o país veio ao mercado comprando muito mais do que geralmente adquiria, gerando uma forte demanda. 

Com as instabilidades entre EUA e China, nosso grão se tornou mais atrativo e economicamente viável aos nossos parceiros orientais. Além disso, a safra estadunidense havia sido abaixo da estimada por problemas climáticos, e essa junção de fatores impulsionou a valorização dos nossos produtos.

Complementando esses fatos, a pandemia do Coronavírus deixou todo o planeta com medo, pois estávamos passando por um acontecimento sem precedentes no mundo moderno, assim, estocar comida foi algo que aconteceu em todas as proporções: desde pessoas comprando volumes de alimentos e itens de primeira necessidade em supermercados e farmácias e governos tentando manter ou aumentar estoque de grãos.

Porém, com o passar dos meses e desenvolvimento das diversas vacinas, o medo deixou de ser o fator predominante e se iniciou o movimento de analisar riscos econômicos e a importância de garantia de produção de commodities, sendo elas agrícolas ou não.

Nesse momento, a safra brasileira, que era a grande garantia global, começou a sofrer problemas de produção, com secas prolongadas, atrasos de mais de 30 dias na janela ideal de cultivo, chuvas localizadas, frios intensos e geadas catastróficas que diminuíram a nossa produção, deixando assim o mercado com uma oferta ainda menor, o que contribuiu mais uma vez para elevação dos preços. E foi com essa soma de fatores que o superciclo se iniciou, inclusive antes do esperado pela maioria dos especialistas.

Vale ressaltar que tal panorama recai sobre todas as commodities, inclusive minerais e petróleo, o que também reflete no aumento dos preços em materiais de construção e energia, além dos combustíveis ao consumidor final.

Não é a primeira vez que estamos passando por tais ajustes, e provavelmente não será a última. Fica agora o questionamento, quanto tempo este ciclo durará e quais serão as consequências dessas alterações? Bem, isso só o futuro nos dirá.

 

Lígia Pedrini, Engenheira Agrônoma formada pela UFMT, filha e neta de produtores rurais, Agroinfluencer, Promotora Técnica Comercial e Sucessora. Diamantino – MT.