O Produtor rural e engenheiro agrônomo Gustavo Santana fala como é ser um verdadeiro operário ‘chão de fábrica’ nessa grande indústria a céu aberto chamada agricultura
A fábula da Cigarra e a Formiga consiste em uma Cigarra muito astuciosa que gostava de levar a vida a cantar, sem se preocupar com o futuro. Também existia uma formiga, que trabalhava de forma árdua para guardar alimento. Enquanto a formiga trabalhava, a cigarra a aconselhava a parar tudo e começar a cantar também. Até que finalmente chegou o inverno. A cigarra não tinha o que comer, enquanto a formiga estava preparada, já que trabalhou o verão inteiro para ter os mantimentos necessários. Moral da história: “Os que não pensam no dia de amanhã, pagam sempre um alto preço por sua imprevidência.”
Mais o que tem haver essa fábula na vida de um engenheiro agrônomo que, assim como muitos filhos de agricultores, seguiu a vocação familiar, mas ele com um diferencial; escolheu ser a formiga da fábula e até hoje não tem o que reclamar e usa essa narrativa como ensinamento de moral e persistência.
Gustavo Garcia Santana, 49 anos, casado com Ana Paula, pai de Antônio e Francisco, acorda às 6h30 da manhã já antenado no agro, no noticiário. No que está acontecendo nos mercados financeiro e agrícola e no dia longo que tem pela frente, mas encarando com a maior naturalidade.
Sob o seu comando, as propriedades da família, podemos dizer que, produzem um misto de culturas. Dos grãos, como soja, milho, feijão, parte irrigada e também cana, como fornecedor para cinco das maiores usinas sucroalcooleiras do norte de São Paulo e Triângulo Mineiro. Nesse último, tal eficiência lhe rendeu um dos maiores prêmios oferecidos pela Delta, unidade de Volta Grande em Conceição das Alagoas-MG no quesito área de segundo corte, com a maior produtividade por hectare, ao atingir 155 ton.
Esse resultado vem do conceito que emprega nas empresas, a produtividade alinhada ao controle de custo e os resultados aparecem a cada final de safra.
Segundo ele, uma produtividade que também está ligada a rapidez da informação. Como? Através da tecnologia, dos aplicativos, para saber as condições do clima, da análise do solo. Do contato instantâneo e interativo com campo mesmo estando em seu escritório na região central de sua cidade, Guaíra, norte de SP.
Gustavo Santana, homem do campo, que muitas das vezes almoça na hora que deveria ser da merenda. Que mostra humildade quando divide o sucesso e resultados com seus colaboradores. Que vê na competência e preparo grandes diferenciais, mais que prima na dedicação como maior peso numa avaliação. Que mesmo diante a tantas tarefas encontra tempo para estar com a família e comer um espeto ao final da tarde.(foto 1 família)
Nessa entrevista você vai conhecer um pouco mais de Gustavo Santana, engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal de Lavras, produtor rural que tem como seu principal lazer, o campo em toda a sua extensão.
Agro S/A- Porquê ser agricultor?
Gustavo Santana- Sou engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal de Lavras em 1995. Sempre gostei de fazenda, de gado de lavoura, de acompanhar meu pai. Ao término da faculdade voltei para Guaíra, comecei a trabalhar com meu pai. Faz 26 anos que sou formado. Tenho paixão pelo que faço. Plantamos soja, milho, feijão, temos uma parte irrigada e uma parte de cana que fornecemos para cinco usinas, Delta, Guaíra, Colorado, Tereos e Continental. Tudo acompanhado de perto, estar a frente do negócio é fundamental.
AGRO S/A – Muitos falam que produtor ganha dinheiro fácil. Uma realidade?
Gustavo Santana – Dinheiro fácil talvez seja a loteria. Em tudo tem que ter competência e sorte. Você está sujeito aos fatores do clima ( seca, ventania). A gente procura fazer tudo certo, a natureza permite que isso aconteça. Ela é Deus, sabe de tudo e dá o troco. Mas também sabe perdoar, quando por exemplo você faz um manejo errado. A natureza devolve o que você oferece a ela. Ela é resiliente. Essa agricultura que a gente faz seja soja, cana, milho, feijão, tomate, é de primeiro mundo e muito prazerosa. É negócio, a agricultura é uma indústria a céu aberto.
Agro S/A- Como você vê a tecnologia no campo?
Gustavo Santana – Acho que temos que estar sempre nos atualizando. Temos o GPS- sistema de posicionamento por satélite que faz ganhar eficiência e aproveitamento de área, a internet, o whatsapp. Hoje numa manutenção de máquinas você tira foto de uma peça e a quilômetros consegue a solução. É tudo muito dinâmico e a tecnologia nos auxilia, porque a fazenda não para. Agora não é tudo que se diz de tecnologia que cabe em seu negócio, então tem que ter um senso crítico. Às vezes o custo-benefício não é compatível para o seu produto. Você tem que estar preparado para ela. É o preço da responsabilidade.
Agro S/A- Quais as competências necessárias para ser um bom colaborador?
Gustavo Santana – A pessoa ser competente, preparada é muito importante. Mais a dedicação, acho ter um peso maior. Em nossas fazendas trabalhamos com uma mão de obra relativamente simples, mas elas têm interesse em aprender. As pessoas querendo aprender, vão embora, crescem.
Agro S/A- Qual o benefício da eficiência no controle de insumos e equipamentos?
Gustavo Santana – O benefício é financeiro. Uma manutenção bem feita e na hora certa terá uma longevidade do maquinário ou equipamento. Em relação ao adubo e defensivo, você tem que jogar o que a planta precisa. Se jogar menos ou mais não vai te trazer uma produtividade. Nessa época de dólar alto, dos insumos muito caros é hora de reinventar. De fazer uma análise de solo, ver do que ele precisa. Jogar o mínimo necessário sempre sem comprometer a produtividade. Trabalhar com o pé no chão.
Agro S/A – E o produtor da porteira para fora?
Gustavo Santana – Hoje temos vários níveis de produtores, temos aquele que vai todo dia para a fazenda e ele mesmo opera o trator. Tem aquele que mora num estado e tem área em outro. Hoje as notícias de mercado estão muito democratizadas então deve ficar atento às mudanças, ao que acontece lá fora.
AGRO S/A – Para você o que falta melhorar para o produtor rural na política nacional ?
Gustavo Santana – Se o governo não atrapalhar já está ótimo. A vocação do Brasil é para o agro. O povo que trabalha nesse setor é trabalhador. Com pouca coisa o agro se desenvolve sem comprometer a produtividade. Acho que se ter uma estrada de qualidade já está bom.
Agro S/A- Como vê a agricultura familiar?
Gustavo Santana –No Brasil temos a agricultura empresarial, soja, algodão, mas a agricultura familiar é muito grande, muito representativa. Vimos isso nas feiras, nas hortas, na produção de hortifruti , tudo vem da agricultura familiar. Ela é muito importante, principalmente para cidades do interior. Em Guaíra temos a agricultura por vocação. De respeito uma pela outra.
Agro S/ A- Como recebeu a notícia da premiação de maior produtividade de segundo corte?
Gustavo Santana – Plantamos uma área para a usina Delta, fomos convidados para uma reunião e lá fomos premiados por atingir numa área de segundo corte a maior produtividade agrícola do ano da Delta- Unidade de Volta Grande -com 155 ton/hec, a maioria fica em torno de 125 ton/hec e lá deu esse resultado. A gente procura fazer tudo certo, mas a natureza também fez a sua parte. Foi uma grata surpresa.
Ao final, Gustavo lembrou de uma frase de Confúcio que diz “Trabalhe com o que ama e nunca precisará trabalhar na vida”, que para ele traz uma mensagem muito importante “o trabalho, a ocupação profissional, toma a maior parte do nosso tempo. Por isso, essa é umas das principais causas que faz uma pessoa feliz ou não. Um trabalho só é obrigação, quando aquilo não traz propósito, quando aquilo não faz sentido pra você. Se a agricultura é uma indústria a céu aberto,como dizem, então sou um operário “chão de fábrica”, porque estar na fazenda, na lavoura, para mim tem um propósito, um sentido, é o que amo fazer e me faz feliz” concluiu Gustavo.
“o trabalho, a ocupação profissional, toma a maior parte do nosso tempo. Por isso, essa é umas das principais causas que faz uma pessoa feliz ou não. Um trabalho só é obrigação, quando aquilo não traz propósito, quando aquilo não faz sentido pra você” Gustavo em referência a frase “Trabalhe com o que ama e nunca precisará trabalhar na vida” (Confúcio)
“Se a agricultura é uma indústria a céu aberto,como dizem, então sou um operário “chão de fábrica”, porque estar na fazenda, na lavoura, para mim tem um propósito, um sentido, é o que amo fazer e me faz feliz” Gustavo Santana