//Por que o monitoramento do tempo e do clima é fator determinante para a Agricultura?

Por que o monitoramento do tempo e do clima é fator determinante para a Agricultura?

A história da Agricultura nos mostra que a relação entre plantar e colher surgiu em várias regiões do planeta antes de Cristo, atravessou o Velho e o Novo Mundo passando por Egito, Roma, Idade Média, industrialização e mecanização, evolução tecnológica até os dias atuais. Mas, mesmo o tempo cronológico não foi páreo para o clima durante toda a história desta fábrica a céu aberto que necessita da água e do sol como fonte para manter a vida na Terra.

A agricultura brasileira sempre encontrou caminhos para evoluir. O clima tropical é um aliado, mas, prever o tempo nos dias modernos e atuais se tornou fator determinante. Hoje, saber se vai fazer sol ou vai chover no momento certo para plantar e colher é fundamental para a produção de alimentos e o negócio do produtor rural.

Para se ter uma ideia, a influência do tempo e do clima hoje na agricultura é tão importante que ajuda a definir até a espécie de semente que será utilizada para cada região do país. A quantidade de chuva e a temperatura afeta diretamente os estágios da planta, sua produtividade e até a safra a ser colhida. 

Fui conversar com a engenheira agrônoma da Climatempo, Tatiane Cravo, para saber a representatividade destes dados nos dias atuais para tomada de decisão e a importância com o passar dos séculos da adoção de tecnologias para monitorar o que irá acontecer no campo. 

Angela Ruiz – Qual a diferença entre tempo e clima e porquê é tão importante entender essa diferença ?

Tatiane Cravo – Frequentemente esses termos são confundidos, mas sim, é importante entender as suas diferenças para ao se buscar informações saber exatamente para qual atividade isso poderá impactar. Na meteorologia, existe uma diferença entre esses dois conceitos. Ambos se referem às mudanças na atmosfera, a diferença é o prazo, ou seja, a duração. Quando falamos de tempo, referente às mudanças de curto prazo, por exemplo de hora em hora e ou de dia a dia. Já o clima é a condição média da atmosfera durante um longo prazo. Um exemplo prático é quando olhamos uma previsão para 15 dias, se trata de uma previsão do tempo, já uma previsão para 30 dias é uma previsão climática pois abrange um longo período.

Angela Ruiz – É possível planejar as atividades agrícolas de acordo com a quantidade de chuva ou período de estiagem ?

Tatiane Cravo: Perfeitamente, inclusive é muito indicado que os produtores estejam sempre atentos às previsões mais estendidas. Ao observar a tendência para os próximos meses, todo o planejamento de quando será o início do período chuvoso para determinada localidade, se no período por exemplo de enchimento de grãos estará com uma boa disponibilidade tudo isso deve ser alinhado no planejamento para encontrar as melhores janelas.

Angela Ruiz – Como fazer o monitoramento do tempo e do clima? Quando o produtor deve iniciar este trabalho ? É necessário ter um pluviômetro dentro da propriedade ?

Tatiane Cravo – O monitoramento do clima deve fazer parte de todo o planejamento agrícola. Então desde a escolha de quais variedades serão implantadas, se teremos um ano de El Niño ou La Ninã, como serão os impactos do clima no ano agrícola, tudo isso deverá ser levado em consideração. O monitoramento deve acompanhar todas as fases, nas escolhas dos insumos, planejamento das equipes de trabalho, cronograma para irrigação e até mesmo no momento da colheita que pode contar com alertas em tempo real da aproximação de tempo severo para otimizar os trabalhos. Essas tecnologias de previsão e monitoramento, não necessitam de pluviômetros para a realização das previsões. Além disso, hoje para a medição após a chuva temos a utilização de Radar que após um processamento consegue dar o acumulado em mapas que vem ajudando muito os produtores.

Angela Ruiz – Fenômenos climáticos intensos com um potencial de risco maior para a agricultura estão cada vez mais comuns no Brasil. O produtor precisa estar atento a essas mudanças?

Tatiane Cravo – Sim, eventos como geadas, vendaval, ciclones, fortes estiagens, altas temperaturas… Tudo isso impacta os produtores de alguma forma. Se estiverem com alguma cultura em campo poderão sofrer acamamento, falta de disponibilidade hídrica intensificação de pragas e doenças e as situações de estresse nas plantas poderão causar grandes prejuízos. E mesmo que não estejam com a cultura em campo, é importante cuidar da área que em alguns meses irá receber o plantio, evitando o desgaste do solo por impactos desses eventos severos. 

A importância do fator clima em porcentagem

Para se obter uma boa safra, o produtor rural precisa estar de olho em sua planilha de custo desde o planejamento da área a ser cultivada, tipo de semente, manejo do solo e lógico o fator clima. O ideal é cultivar em ambientes de clima mais propícios para determinada cultura. Por exemplo: áreas brasileiras mais quentes utilizam cultivares tardia. Se o produtor utilizar uma variedade precoce onde a temperatura é mais quente, consequentemente irá produzir menos. 

“Pode parecer pretensão, mas diria que para o sucesso de uma boa safra é necessário usar 100% do potencial do monitoramento do clima, como o principal fator determinante”, comenta a engenheira agrônoma. 

O Brasil possui tecnologias para poder vencer as adversidades climáticas, mas é preciso contar com a ajuda de programação, inteligência artificial e bigdata. “A adoção de tecnologias é essencial para que os produtores possam se prevenir do que vai acontecer e assim tomar as decisões no momento certo”, conclui Tatiane.

Como vimos, saber se vai chover e quanto irá chover é fator determinante para o planejamento do dia a dia no campo, do trânsito de máquinas e até mesmo para determinar a necessidade de irrigação. Hoje, existem no mercado produtos cada vez melhores para atender as demandas e aplicações da meteorologia na agricultura. São ferramentas capazes de informarem previsões georreferenciadas, que dão previsões específicas para cada fazenda. A engenheira agrônoma da Climatempo, atende diariamente um número grande de produtores em busca de solução para minimizar ao máximo os prejuízos e a solução apresentada é um monitoramento direcionado por ponto/hectare com alertas de tempo severo.

Durante a entrevista, a engenheira agrônoma disse que estar de olho no que irá acontecer com o clima nos próximos meses é essencial para um bom planejamento da safra. Assim, é importante que os produtores adotem um planejamento a longo prazo para questões de clima e a utilização diária da informação para se prevenir quanto uma condição de tempo atual ou de um período curto de tempo e específico.

Para finalizar, uma notícia para os produtores e produtoras rurais deste Brasil que nos acompanham na Revista Agro S/A: O meteorologista da Climatempo, Filipe Pungirum, disse que o fenômeno está configurado, mas será um evento fraco. O fenômeno provoca mais chuva na porção centro-norte do Brasil e menos chuva no centro-sul do país. Isso quer dizer, que no centro-norte de Mato Grosso e de Goiás e no Distrito Federal, tenha mais chuva por causa da presença do La Niña. Já no centro-sul de Mato Grosso do Sul, a probabilidade é de menos chuva quando o fenômeno está ativo.         

O meteorologista ressalta ainda os problemas no Sul do país: “Mesmo com a confirmação de um evento fraco de La Niña, a previsão climática já indica pouca chuva na Região Sul nos próximos meses e no início do ano que vem.”

Angela Ruiz – Assessora de Comunicação e jornalista com foco em clima e Agro na Climatempo by Stormegeo. Integrante da Liga do Agro.