* André Luís Torres Baby
Eng. Florestal, ME em Sustentabilidade e
andreluis.baby@gmail.com
Ocorreu entre os dias 6 e 18 de novembro na cidade de Sharm el-Sheikh, Egito, a 27ª Conferência das Partes (COP) liderada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Na ocasião reuniram-se ativistas ambientais e sociais, chefes de estado, povos originários, cientistas, empresas, ocasião em que se encontraram para debater as mudanças climáticas, suas adaptações e mitigações, bem como estratégias para o avanço das questões ambientais que são de interesse global, como a situação da redução das emissões de gases de efeito estufa (GEEs).
Em síntese, o objetivo principal da COP 27 era a devida IMPLEMENTAÇÃO de acordos anteriores, como o de Paris, de Glasgow e até de Copenhague. Além disso, buscava-se o entendimento sobre a baliza da temperatura global com tolerável aumento até 1,5˚C. Essa importância se dá devido a comparação de que os níveis pré-industriais do mundo, relacionados ao aquecimento global, já estão 1,2˚C mais quente, portanto, é necessária toda atenção da humanidade, poder governamental e mundo privado para esse controle.
No que tange à Mitigação e a Adaptação, ou seja, como contornar o comportamento humano, produtivo, de crescimento e de desenvolvimento relacionados aos impactos ambientais e, ainda, colocar em prática planos para proteger as comunidades que, invariavelmente, serão afetadas pelo aquecimento global – parte do estrago, como se sabe, já está feito com gases de efeito estufa. Assim, é preciso imediatamente pensar nos mais desfavorecidos e nas populações vulneráveis com ações de adaptação ao contexto climático adverso. Neste sentido, como um dos resultados da COP 27 podemos citar a criação do Fundo de Perdas e Danos cujo objetivo é que doadores, isto é, os países ricos apoiem em um fundo global o auxílio a países em desenvolvimento em caso de desastres naturais relacionados às mudanças climáticas. A questão é debatida desde 2009, quando em Copenhague ficou acordado que países desenvolvidos aportaram 100 bilhões de dólares por ano em países em desenvolvimento. Contudo, o acordo de financiar a transição para a economia de baixo carbono e investir em programas de adaptação e mitigação dos efeitos do aquecimento global ainda não tem caixa definido.
O financiamento, que todos estavam esperançosos, ainda não aconteceu e os países mais ricos e poluentes também não deram satisfação sobre quando e quanto irão aportar em recursos financeiros. Esse sempre foi um ponto chave de todas as COPs e continua sem resolução, por outro lado as cobranças aos países em desenvolvimento continuam exacerbadas. O Brasil, a ONU e todos os países em processo de desenvolvimento consideram urgente convencer os países mais ricos a disponibilizar recursos significativos e que realmente possam promover a transformação e a guinada para um desenvolvimento sustentável no mundo e, assim, o caminho para uma economia mais verde, limpa e socialmente justa. Entretanto, o tão esperando fundo de bilhões de dólares continua vazio.
No que tange à colaboração, temos a visão da conferência como propositiva, com mais de 45.000 participantes, mas que ficou aquém do esperado, pois sem recursos, investimentos, tecnologia, inovação e o apoio dos países desenvolvidos e mais poluentes não teremos muitos avanços em escala global.
Quais são as consequências do aquecimento global?
É sempre bom lembrar que o marco estabelecido pelos pesquisadores do Painel IPPC é de até 2ºC a capacidade de suporte da Terra. Portanto, caso a temperatura planetária suba ainda mais, poderemos ter escassez de chuvas em alguns pontos e chuvas torrenciais em outros, secas e geadas mais severas, temperaturas médias mais altas, perdas em plantios e criação de animais, mais espécies correriam risco de extinção e a perda de biodiversidade e o desequilíbrio ecológico poderão ser agravados, bem como o descongelamento de placas polares e, assim, ocasionar elevação do nível do mar em faixas litorâneas, entre outras séries de apuros.
Dentre essas questões físicas, é preciso considerar que estudos do painel intergovernamental sobre mudanças climáticas relatam que quase um terço da população pode ficar regularmente exposta ao calor severo, o que se traduziria em problemas de saúde e, inevitavelmente, em maior número de mortes relacionadas ao clima. Então, se mantido o teto de 1,5ªC, conforme ficou acordado nesta COP tudo fica resolvido? Infelizmente, não! Por outro lado, o panorama seria menos caótico. Com um cenário mais favorável, teríamos menos problemas com escassez de alimentos e água, além, é claro, da preservação da biodiversidade. Nesse cenário, a humanidade enfrentaria menos problemas climáticos com contornáveis alterações.
Dado o cenário atenuante, o que temos certeza é que os segundos passam e a janela de oportunidade de contornarmos os problemas climáticos em até 1,5ºC é extremamente necessária.
Quais são as boas notícias?
Além da criação do fundo de mitigação e adaptação, ainda sem um centavo de dólar, e o consenso sobre a meta em manter o aquecimento global até 1,5ºC, temos algumas outras boas novas sobre o uso das energias renováveis e limpas, como eólica, hidrogênio verde, solar e até as hidrelétricas que estão são exemplos de soluções para continuarmos a desenvolver os países e avançarmos na mitigação da poluição e uso dos combustíveis fósseis. Nesse sentido, vários eventos paralelos à COP também aconteceram no Egito e tiveram troca de experiências, negócios e que irão promover o desenvolvimento sustentável.
O fato é que a adaptação dos países e economias com o estímulo à inovação, empreendedorismo, tecnologia e engenharia deverão mover os países que se atentarem rapidamente para este novo modelo de desenvolvimento mundial muito pautado em Sustentabilidade e ESG (Environmental Social and Governance).
Economia de baixo carbono
A transformação da economia para mercados menos poluentes também foi tema entre os governantes, que visam uma transformação global para uma economia de baixo carbono, devendo exigir investimentos de 4 a 6 trilhões de dólares por ano. Para alcançar essa meta, o plano reforça a necessidade da entrega de financiamento pelos sistemas financeiros, bancos e suas estruturas, que precisarão se atualizar juntamente com os governos, bancos centrais, investidores institucionais e outros atores financeiros. Porém, existe uma preocupação, pois a promessa dos países desenvolvidos para mobilizar recursos para todas as estratégias não está sendo efetivada.
E o Brasil na COP 27?
O Brasil continua como protagonista em COPs e tende a aumentar sua participação e decisão nas discussões climáticas, ambientais e financeiras, hoje e sempre. Setores industriais, produtivos e agropecuários foram destaques na representação brasileira mostrando adaptação e melhoria em seus modelos de produção com o aprimoramento e o direcionamento para a tão almejada transição energética e melhores práticas produtivas, claro que incluindo a diminuição da emissão dos GEEs.
Por outro lado, o calcanhar de Aquiles do Brasil continua sendo o desmatamento ilegal e os incêndios florestais na Amazônia, que prejudicam todo um contexto social, produtivo e econômico. Então, para contornar essa exposição é preciso extirpar definitivamente o crime ambiental da economia brasileira e valorizar cada vez mais nossos ativos florestais, produtos, serviços, nosso sistema econômico e nossa gente, pois não há mais tempo a perder, façamos bom uso dos nossos recursos naturais, do nosso capital produtivo e que nós sentemos à mesa das discussões internacionais sem o pires na mão, mas com propostas e caminhos bem-postos para prosperar em qualidade de vida, economia, produção, inclusão social e meio ambiente.