//Em Itapetininga, produtores podem ampliar ganhos em até 50% com o leite orgânico de búfalas

Em Itapetininga, produtores podem ampliar ganhos em até 50% com o leite orgânico de búfalas

Produtores da região de Itapetininga, no interior de São Paulo, buscam certificação para produzir o leite de búfala orgânico, que poderá aumentar em até 50% o preço pago pelo litro de leite, além de ampliar a oferta de produtos ao consumidor paulista. O trabalho de orientação para converter a produção do leite convencional para orgânica é realizado desde março de 2018 por técnicos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), que atuam no Escritório de Desenvolvimento Rural de Itapetininga.

O leite de búfala é naturalmente A2, pois não contém a beta-caseína A1, uma substância associada a reações alérgicas, inflamações e desconforto gastro-intestinal por uma parte da população. Por ter elevado teor de sólidos, é utilizado na produção da muçarela e em seus diversos formatos, como burrata, frescal, ricota, requeijão cremoso. É cada vez mais apreciado pelos consumidores por sua textura delicada e sabor suave.

“O leite de búfala tem alto rendimento na fabricação de queijos, em relação ao leite de vaca. Com teores de gordura que podem chegar a 6,5% e de proteína entre 4,5% a 5%, são necessários apenas cinco a seis litros de leite de búfala para fazer um quilo de muçarela, contra 10 litros do leite de vaca”, explica Ana Paula Roque, que na regional de Itapetininga da CDRS é responsável pelo atendimento aos criadores dos bubalinos.

Futuro Promissor

Em 2018, produtores da Cooperativa dos Produtores de Leite e Demais Produtos da Agricultura Familiar do Município de Sarapuí e Região (Colaf) receberam a proposta de um laticínio, no Rio de Janeiro, para o qual já forneciam o leite convencional, de fornecer também o leite orgânico.

A remuneração pelo leite orgânico foi um grande atrativo aos produtores da região. Pelo leite entregue durante o período de conversão, eles recebem 30% a mais, em relação ao preço base, que é de R$ 2,20. Quando o leite finalmente estiver certificado, os produtores deverão receber 50% a mais, em relação ao preço base.

Um dos produtores que aceitou realizar a conversão para produtos orgânicos foi Adriano Nunes de Almeida, de Sarapuí. Com a ajuda da esposa Márcia e do filho, ele chega a produzir cerca de 100 mil litros de leite de búfala ao ano. Sua meta agora é ampliar o faturamento com a inclusão de novos animais no rebanho.

Adriano conta que o processo de conversão foi longo, mas teve o importante apoio dos técnicos da CDRS. “Recebemos toda a orientação, desde o processo da documentação até a adequação dos implementos para tornar a produção orgânica”, afirma o produtor, que também cultiva tangerinas em sua propriedade. “Durante o processo de certificação, já estamos recebendo a mais pelo litro do leite e a empresa arca com os custos da certificadora no primeiro ano”, afirma.

De acordo com Ana Paula, os produtores tinham muito dificuldade em aplicar o Plano de Manejo Orgânico. “Foi aí que começou o trabalho da Secretaria de Agricultura”, lembra a técnica, que também buscou aperfeiçoar seus conhecimentos tanto para o desenvolvimento do trabalho técnico como documental exigido pela certificadora. “Aprendi sobre os aspectos conceituais da pecuária leiteira orgânica, tecnologias a serem utilizadas, homeopatia, tudo acompanhado de visitas práticas em propriedades orgânicas da região de São Carlos. A troca de experiência entre técnicos e produtores participantes do curso foi muito enriquecedora”, relata.

O maior desafio dos produtores da região de Itapetininga foi a gestão de informações como a identificação dos animais, implantação de planilhas de produção vegetal e animal e outros controles de campo, que não eram realizados nas propriedades participantes. “Outro fator é a compra de grãos orgânicos, principalmente o milho, que não são produzidos na região de Itapetininga e tem que ser comprados em outros Estados, o que encarece o produto”, disse Ana Paula.

Neste aspecto, o assessor do Gabinete da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, Edwin Montenegro, destaca que a Pasta tem desenvolvido estudos e diagnósticos em diferentes segmentos produtivos, que sinalizam que a estratégia do desenvolvimento dos orgânicos está na cadeia de insumos. “Temos como prioridade aumentar essa produção de grãos orgânicos, pois esses insumos não estão sendo supridos pela produção do Estado. Dessa forma, conseguiremos abastecer não só os produtores de leite, como também de ovos e frangos orgânicos”, afirma.

Graças à boa alimentação dos animais, a produção de leite orgânico pelos criadores da região de Itapetininga foi semelhante à produção convencional, com pastejo rotacionado, balanceamento de dietas e bem-estar animal. Um dos pontos positivos, destaca Ana Paula, foi que os bubalinos raramente enfrentam problemas com mastites e carrapatos, o que facilitou o processo de conversão, no que se refere às questões sanitárias. “O controle de endo e ectoparasitas está sendo feito com produtos homeopáticos”, explica.

Produto diferenciado

A muçarela de búfala é obtida a partir do leite extraído do animal. Após sofrer o processo de pasteurização, o soro é retirado e a massa ganha o formato da muçarela de búfala que é comercializada no mercado. A muçarela de búfala não é prensada.
É um produto considerado nobre, uma vez que a produção de leite de vaca é maior do que a de búfala, e consequentemente, a de queijo também. Mas, os benefícios encontrados na muçarela de búfala são bem maiores quando comparados aos da muçarela de vaca.
A versatilidade da muçarela de búfala é bastante apreciada na culinária. Por ter um sabor delicado e suave, é muito utilizada no preparo de doces e salgados, compondo pratos como saladas, recheios de massas e tortas. É base de pratos como bruschettas, risotos, salada caprese, entre outros.
De acordo com o Centro de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (Cesans), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, a muçarela de búfala tem 59% a mais de cálcio e 40% menos colesterol. Com relação ao sódio, 100g de muçarela de vaca contém 581mg, enquanto na muçarela de búfala, há 415mg.