Foi um dia como qualquer outro em São Joaquim, mas tudo mudou com um telefonema inesperado. Quando ouvi a voz de Luciana Martins, diretora executiva do Grupo Conecta, minhas pernas tremeram e meu coração disparou. Ela me convidava para ser uma das comandantes do Encontro Nacional das Mulheres Cooperativistas (ENMCOOP 2023) a bordo de um transatlântico.
A indicação era da Marieli Biff. Minha resposta automática foi: “eu sou pequena produtora”, quase como se esperasse que ela tivesse cometido um engano. Porém, o convite era real, e aquela oportunidade se tornaria um marco em minha jornada.
Toda orgulhosa fiquei sabendo que fui a primeira catarinense e joaquinense a ser convidada a ser uma representante nesse grandioso evento, afinal sou gaúcha de nascimento mas Catarina de coração!
Este mesmo Encontro o ENMCOOP que no ano passado 2024 foi no Costão do Santinho, em Florianópolis , e este ano já está a todo vapor para ser em Campinas nos dias 02 e 03 de Dezembro em 2025
Agroamigas –
A ideia do Agroamigas nasceu de um movimento que convoca as mulheres para se conectar, aprender e se fortalecer. A proposta era simples, e ainda assim poderosa: informar sobre eventos, organizar caronas solidárias para reduzir custos e, às vezes, até compartilhar acomodações. Proporcionar uma logística e incentivar a participação estreitou nossos laços e ampliou nosso espectro de ação. O grupo que começou timidamente em Santa Catarina não só cresceu, como também atraiu mulheres de outros estados, hoje já podemos dizer que temos integrantes de dezenas de estados.
No mundo dinâmico do agronegócio, criar um espaço onde mulheres possam se unir, compartilhar experiências e adquirir conhecimento não é apenas necessário, mas transformador. Foi com esse espírito que concebi o Agroamigas. Inicialmente, como parte de vários grupos de mulheres do agro, percebi a carência de informações centralizadas e acessíveis sobre eventos importantes. Meu papel acabou se moldando a esse objetivo – informar e incentivar. Sempre estive comunicando sobre eventos, querendo garantir que nenhuma oportunidade passasse despercebida para nós, mulheres.
Desde 2019, atuo na divulgação desses eventos e no fortalecimento das mulheres no agro, acontecesse no Rio Grande do Sul ou em qualquer outra parte do país. Muitas nem sabiam da existência do ENMCOOP ou de congressos relevantes; trabalho para mudarmos isso. Ficar imensamente feliz ao ver tantas mulheres se mobilizando, trazendo suas histórias e contribuições, transformou esse movimento numa rica colcha de retalhos da diversidade agropecuária nacional.
Participar do meu primeiro ENMCOOP se deu através da Sandra Murta, durante o período do COVID. Foi uma experiência online, mas que incendiou meu desejo de aprofundar e fomentar essas conexões. Mesmo de longe, construímos amizade e compreensão mútua através das redes sociais, sempre prontos para oferecer ajuda ou compartilhar soluções para desafios comuns.
Ver mulheres que, anteriormente, se sentiam limitadas a funções domésticas se reconhecerem essenciais na gestão das propriedades e no agro foi maravilhoso
Além do estímulo do Agroamigas, vale mencionar como a riqueza de nosso solo catarinense também reflete nosso compromisso com o meio ambiente.
Em São Joaquim, desfrutamos do reconhecimento da maçã Fuji como uma das melhores do Brasil, fruto de uma produção que respeita e celebra a natureza. Nossos pomares, rodeados pelas esplêndidas araucárias, testemunham nossa preocupação com a sustentabilidade. E como extrativistas de pinhão, continuamos a honrar essa bela tradição.
“É um orgulho imenso e uma honra que transcende o conceito de legado. Desde pequena, fui preparada para assumir essa responsabilidade, com base no amor e no cuidado pelos animais e pela terra, transmitidos pelos meus antepassados. Cresci acompanhando meus avós paternos nas tarefas do sítio, aprendendo com eles no galpão de madrugada ou cuidando dos terneiros. Meu pai, com sua paixão pelas lidas de gado e plantio, também foi essencial nesse processo, me ensinando a valorizar cada aspecto da vida rural.”
A propriedade é diversificada e produtiva. Plantamos batata, milho, feijão, temos um pomar de maçãs e criamos gado para reposição.
Em todas essas ações, as mídias foram parceiras formidáveis. As mídias reconhecem e amplificam nosso labor, trazendo para o público a narrativa real das adversidades e conquistas que compõem nosso cotidiano. Seja enfrentando as duras chuvas de granizo deste ano ou divulgando os percalços das safras em Minas Gerais, as mídias garantem que as histórias por trás dos alimentos não permaneçam ocultas.
Por tudo isso, manifesto minha sincera gratidão à imprensa e a todas as mulheres que tornam o Agroamigas um verdadeiro celeiro de inovação, resiliência e, sobretudo, uma comunidade de força feminina no agronegócio que nunca para de crescer.
Vamos conhecer um pouco da Katia Helena
Kátia Helena Fenner Rodrigues é uma figura marcante no agronegócio catarinense e nacional, emanando determinação e orgulho ao assumir o legado de sua família: uma propriedade rural localizada em São Joaquim, com mais de um século de história. Sendo bisneta e neta de tropeiros, Kátia encarna a tradição, mas também lidera mudanças significativas para promover a participação feminina no agronegócio.
O percurso da liderança feminina no agro foi permeado de desafios. Momentos difíceis ocorreram, desde passar pelo inventário da família até equilibrar a responsabilidade maternal com a gestão da propriedade. Sou mãe de dois filhos: Pablo, que me ensina a cada dia o valor da adaptação, e João Victor, exemplo de realização profissional.
Sua rotina de trabalho começa ainda antes do amanhecer, com cuidados que vão desde a alimentação dos animais até a gestão administrativa de sua propriedade. Ali, dedica-se ao cultivo de batata, milho e feijão, mantém pomares de maçãs Fuji — mundialmente famosas e com certificação de origem — e inclusive, pratica o extrativismo sustentável de pinhão em meio a uma vasta reserva de centenárias araucárias.
Apaixonada pela terra, Kátia almeja expandir a participação de mais mulheres em eventos importantes do setor. Desde 2019, engajou-se profundamente em atividades de divulgação e network, criando e fortalecendo laços através das plataformas digitais. Seu entusiasmo ajudou-a a representar seu estado em eventos prestigiados como o ENMCOOP, quebrando padrões e servindo de inspiração para muitas outras.
Ela enfrenta desafios comuns enquanto mulher no agro, como a dificuldade em negociações e preconceitos que, por vezes, ainda perduram. Porém, sua trajetória é um testemunho de resiliência, equilibrando com destreza as complexidades da maternidade e a direção de negócios. Ela vem se destacando com suas contribuições, influenciando positivamente a percepção da mulher na gestão rural.
Com espírito de liderança e exemplo, Kátia participou de eventos em SC e RG, sendo reconhecida com premiações pela liderança feminina no agronegócio. Sempre que pode, ela incentiva as mulheres a participarem de eventos renomados como do Campo à Mesa”, e planeja continuar nesse ritmo, levando outras mulheres a fazerem parte de uma transformação dinâmica no setor agroindustrial em 2025.
Sua visão de futuro é otimista, especialmente com o projeto “Selo Sustentabilidade Rosa”, voltado para as extrativistas de pinhão da região Sul e para as mulheres fruticultoras. Para ela, o papel feminino é essencial e está em constante expansão na construção de um agronegócio mais justo e sustentável.
Entusiasmada, Kátia acredita que as mulheres têm o potencial e a habilidade para serem agentes de mudança e inovação, desbravando novas fronteiras no setor agro. Com cada vez mais vozes femininas sendo ouvidas, ela defende a união e o fortalecimento mútuo, visando um amanhã em que a equidade e a sustentabilidade sejam a regra, e não a exceção.