Entrevista com o ex ministro do meio ambiente Ricardo Salles, sobre a imagem do Brasil no exterior, críticas de outros países a nossa política ambiental e de pessoas dedicadas a falar mal do Brasil 24 horas por dia
Proveniente de uma família de advogados paulistana, o filho do Sr. Jorge de Santa Luzia Salles Júnior e da dona Diva Carvalho de Aquino, o advogado Ricardo Salles, formou-se em direito pela Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Fez pós-graduação em direito nas universidades de Coimbra e Lisboa em Portugal, além de pós-graduação em administração pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Fundou em 2006 o Movimento Endireita Brasil (MEB), grupo formado por advogados e empresários paulistanos em defesa da renovação da direita no cenário político brasileiro e do liberalismo econômico. Liderou em 25 de maio de 2010 o Dia da Liberdade de Impostos em São Paulo, uma manifestação pela redução da carga tributária no país.
Ex-diretor da Sociedade Rural Brasileira (SRB), secretário particular do governador de São Paulo Geraldo Alckmin e na sequência nomeado secretário do meio ambiente do estado. Como ministro do meio ambiente do governo Jair Messias Bolsonaro até junho de 2021, foi um dos alvos preferenciais do noticiário nacional e até internacional nos últimos dois anos, visto por parte dos ambientalistas como, pessoa estranha às pautas históricas do movimento. Disse, enquanto ocupou o Ministério do Meio Ambiente, que sua política de preservação ambiental era baseada na preocupação com as pessoas. Apesar de ter um perfil discreto, ele se envolveu em inúmeras polêmicas e discussões enquanto foi ministro, motivadas por uma característica sua que tanto amigos como inimigos reconhecem serem ressalvas à sinceridade.
Ricardo conversou com a Revista Agro S/A e respondeu alguns questionamentos como: seu trabalho no ministério, meio ambiente, a imagem do Brasil no exterior, seus seguidores, ONGs, Jair Bolsonaro, produtores rurais, entre outras coisas. Confira.
Agro S/A: Qual é o maior problema ambiental no Brasil?
Ricardo: Falta de saneamento e má gestão do lixo ou resíduos sólidos.
Agro S/A: A política reversa de embalagens plásticas, dentro da Política Nacional de Resíduos Sólidos, é uma responsabilidade compartilhada com toda sociedade. Na sua opinião, no Brasil corremos o risco de empresas e institutos criarem um monopólio neste mercado?
Ricardo: Todos têm essa responsabilidade. Cabe aos acordos setoriais ordenar o tema e ao setor privado executar, atingir metas e reinserir produtos via economia circular.
Agro S/A: Você é muito benquisto e admirado no agronegócio. Sua gestão, pelo que parece, jamais será esquecida por aqueles que ainda acreditam no Brasil, considerado por muitos como comandante do desmonte do ambientalismo radical que durou décadas.Fala um pouco pra gente sobre isso.
Ricardo: É preciso equilibrar preservação com desenvolvimento econômico de forma sustentável. Olhar para as pessoas em primeiro lugar.
Agro S/A: Percebemos que por longos anos o agricultor foi praticamente marginalizado. Você acredita que ainda é assim, ou mudou o conceito do mundo sobre isso, principalmente no Brasil?
Ricardo: O agricultor é um herói. Trabalha de sol a sol, produzindo alimentos de qualidade e de forma sustentável. Conservador e defensor da família e do meio ambiente, sofre preconceito injustificado por parte da esquerda caviar urbana.
Agro S/A: Você disse dias atrás que tentam rotular empresários agrícolas como bandidos, principalmente na Amazônia. Fale um pouco disso.
Ricardo: O governo nas décadas de 60 e 70 incentivou as pessoas a irem viver e ocupar a Amazônia, mas eles foram no fundo abandonados lá. Sem regularização fundiária, tecnologia e verbas. Precisam sobreviver em meio às dificuldades da região. A sociedade virou as costas para eles.
Agro S/A: Qual o projeto para que se tenha o real e efetivo pagamento por serviços ambientais e ecossistêmicos?
Ricardo: Lançamos o Floresta+ , o maior programa do mundo com 500 milhões de reais para PSA (Pagamento por Serviços Ambientais).
Agro S/A: Você acredita que “lá fora” estão mudando o conceito de como ver verdadeiramente o Brasil de como ele é?
Ricardo: Infelizmente, não. Há ONGs, professores e jornalistas dedicados a falar mal do Brasil 24 horas por dia.
Agro S/A: Outros países insistem em dizer que o Brasil é o maior criminoso em relação ao meio ambiente, fale um pouco disso. E eles fazem o dever de casa?
Ricardo: Eles que emitem mais de 70% dos gases de efeito estufa e o Brasil apenas 3%. Eles acabaram com suas florestas, poluíram os rios e contaminaram o solo. Nós temos código florestal, reserva legal e APP. O problema são eles, não nós.
Agro S/A: Você adquiriu milhões de seguidores, mas também adquiriu muitos desafetos. Percebemos que ou te amam ou te odeiam, é isso mesmo?
Ricardo: Quando se tem posição firme, você acaba criando inimizades. Mas, felizmente, muitos amigos também.
Agro S/A: Neste mesmo pensamento, entre os que não gostam de você estão
pessoas ligadas a Ecologia, ONGs e afins, tem alguma explicação para isso?
Ricardo: Um pouco de desinformação. De outra parte, é rivalidade política e também aqueles que não se conformam por terem perdido a boquinha das verbas fáceis e fartas.
Agro S/A: Em um artigo de março de 2021, publicado na conceituada revista científica “Biological Conservation”, Vale e colaboradores (1) mostram uma série de dados que corroboram o enfraquecimento das leis ambientais nos primeiros 7 meses da pandemia, além da exoneração de pessoal de áreas protegidas e redução de 70% no número de multas por crimes ambientais. De fato, “passando a boiada” no meio ambiente. Ao passo que essas leis podem favorecer o Agronegócio, as madeireiras (ilegais) e grandes produtores rurais em curto prazo, em longo prazo,essas medidas não podem ser um “tiro no pé” para a agricultura brasileira?
Ricardo: Mentira. Nenhum funcionário foi demitido, até porque são concursados e não poderiam ser. Segundo, todas as mudanças sugeridas foram contestadas no judiciário e mantidas, uma vez que corretas.
Agro S/A:: A Revista Agro S/A esteve na passeata de 7 de setembro, mas muitos ficaram com a sensação que não adiantou nada terem saído de suas casas e cidades para participar da manifestação. Você acredita que mudou alguma coisa?
Ricardo: É sempre importante ter a sociedade mobilizada em torno de boas causas.
Agro S/A: Você ficou satisfeito com o trabalho que exerceu como Ministro?
Ricardo: Fizemos muitas coisas importantes, mas não deu tempo para tudo que era necessário.
Agro S/A: O Brasil tem jeito? Você acredita que o Bolsonaro devolveu a esperança aos Brasileiros?
Ricardo: Está devolvendo, mais de 20 anos de aparelhamento de esquerda, não mudam em apenas 3 anos.
Agro S/A: Fala um pouco do Bolsonaro não como presidente, mas como pessoa que você teve convivência!
Ricardo: Um cara simples, direto, informal, bastante intuitivo e de temperamento forte. Corajoso e sempre muito preocupado com o Brasil.
Agro S/A: Você está como comentarista de um dos programas de maior credibilidade no Brasil, “Os Pingos Nos Is”, da rede Jovem Pan. Fala como é estar ao lado do Vitor Brown, Augusto Nunes, José Maria Trindade, Guilherme Fiuza e Ana Paula Henkel às vezes a Cris entre outros grandes nomes. Ricardo: Uma grande satisfação. Turma de primeira qualidade e muito decentes. Diferente de muitos outros por aí. Agro S/A : Você pretende ser candidato ao senado, se sim e se conseguir, o que será uma das primeiras coisas que pretende fazer, quais suas propostas?
Ricardo: Devo concorrer à câmara federal, mas isso veremos no tempo certo.
Agro S/A: Salles, deixe aqui suas considerações finais.
Ricardo: O Brasil tem jeito, mas não é fácil. Precisa persistir e entender que nem tudo pode ser feito rapidamente e de uma vez só. Há que vencer desafios, dia a dia.