A produtora mostra como a administração feminina está transformando o Grupo Junqueira Rodas em um dos gigantes do agro brasileiro
Fundado em 1968, o Grupo Junqueira Rodas está consolidado como um dos grandes players do agronegócio no Brasil. Hoje, são 13.271 hectares, divididos em 12 fazendas: uma no Mato Grosso do Sul e 11 localizadas no estado de São Paulo, com o cultivo de laranja e cana-de-açúcar e criação de gado Tabapuã, sendo detentor do berço da raça.
A laranja é o seu principal produto. São mais de dois milhões de pés espalhados por propriedades em Monte Azul Paulista, Guaraci, Tabapuã, Adolfo, Santa Cruz do Rio Pardo e Santa Rita de Passa Quatro. A fruta é destinada apenas para a produção de suco.
Com a utilização de tecnologia e investimentos em agricultura de precisão, a produção chega a mais de três milhões de caixas da laranja por safra. A idade do pomar atual é de cinco anos e está no ápice da produção.
Já a plantação de cana começou em 2009 e ocupa 35% das terras do grupo. São 3.861 hectares, com 84% em produção e 16% em reforma. São colhidas cerca de 225 mil toneladas da planta para o mercado todo o ano.
Porém, essa grande expansão só ocorreu somente após 2008. Com o falecimento do dono e presidente, Fábio Zucchi Rodas, a empresa passou por um processo de sucessão familiar. A filha caçula, Sarita Junqueira Rodas foi quem, aos 25 anos e com três filhos, decidiu abdicar da carreira na área de direito e assumir o papel de gestora ao lado da mãe, Maria Teresa Junqueira. Com isso, um novo modelo de governança foi implantado, mais descentralizado e dinâmico, o que possibilitou a ampliação do negócio.
“A empresa vinha crescendo comandada por um empreendedor nato. Com a ausência do meu pai e a mudança para vários sócios, a primeira coisa que a gente implantou foi uma controladoria muito forte. Depois, o projeto de orçamentos, indicadores e, o último, de metas, com o sistema de meritocracia e gestão de resultados.”
Com Sarita à frente do negócio, as unidades foram todas interligadas em um ambiente virtualizado, criou-se um sistema online para trocas de informações e maior transparência dos dados, monitoramento das plantações por GRPS, sistema de rádio para comunicação em todas as fazendas, entre outros investimentos tecnológicos.
Os pés de laranja foram renovados, iniciou-se o cultivo da cana e a ampliação da criação do gado Tabapuã. Duas estações meteorológicas que mostram as mudanças do tempo minuto a minuto foram instaladas em pontos diferentes e estratégicos, uma na Fazenda Primavera, em Adolfo (SP), e outra na fazenda Santa Ângela, em Santa Rita do Passa Quatro (SP).
As medidas fizeram com que o Grupo dobrasse seu faturamento anual em um período de quatro anos. “Acredito que inovar é preciso sempre e estamos, constantemente, estudando novas atividades para viabilizar o crescimento do Grupo Junqueira Rodas”, afirma a CEO do Grupo.
Ao ser indagadasobre as dificuldades da figura femininano agronegócio, atividade predominantemente masculina, a citricultora prefere falar das conquistas. “Minha gestão é baseada na cooperação e na coordenação da minha equipe. Costumo dizer que liderar é saber alocar cada colaborador na função adequada, para que eles entreguem o melhor e juntos nos tornarmos completos. Além disso, a mulher à frente dos negócios pratica o convencimento, motiva as pessoas para que elas vão aderindo aos projetos e não os impõe de cima para baixo. Aliás, o jeitinho feminino encanta as pessoas e isso ajuda nos negócios, a gente não vai para um enfrentamento, vai para o convencimento”, conta Sarita.
Rodas se destaca no setor pela sua liderança. Inclusive, foi a primeira mulher eleita para o Conselho Deliberativo do Fundecitrus e está na instituição desde 2016. Ela também é a única figura feminina no Conselho de Administração da Montecitrus, importante grupo de produção e comercialização de laranja do estado de São Paulo.
Tabapuã
O Junqueira Rodas é também o detentor do berço da raça Tabapuã. O gado é genuinamente brasileiro e destaca-se entre os zebuínos. A criação é realizada na Fazenda Água Milagrosa, em Tabapuã (SP). Foram investidos R$ 2.218.000, desde 2009, na criação das 1,3 mil cabeças destinadas ao melhoramento genético.
Segundo pesquisas, as matrizes apresentam elevados índices de habilidade materna – a fêmea, aos 18 ou 20 meses, apresenta mais de 60% de fertilidade. A boa produção de leite faz com que os bezerros cheguem a 200 kg na desmama. A precocidade da raça também torna o Tabapuã um campeão de peso logo aos 205 dias, o que dá ao gado uma vantagem ao longo do seu desenvolvimento. O abatimento pode ser realizado aos 30 meses, enquanto o Nelore, por exemplo, somente a partir dos 40 meses.
O excelente tratamento dado aos animais e as vantagens da raça fazem com que o Tabapuã do Grupo Junqueira Rodas conquiste inúmeros prêmios. Na Fazenda Água Milagrosa está localizada a maior sala de troféus do país: são 157 estatuetas conquistas pelo Tabapuã em diferentes julgamentos.
Na Expozebu
Entre final de abril e início de maio, o plantel do grupo participa da 84ª edição da Expozebu, em Uberaba (MG). São 16 animais, entre matrizes e reprodutoresparticipando das avaliações por jurados e leilão. “São animais com a tradição e qualidade genética da Fazenda Água Milagrosa”, destaca Sarita.
Três animais do plantel também participam, no dia 30 de abril, do leilão Peso Pesado Tabapuã, promovido pela Tatersal Rubico Carvalho, em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Tabapuã (ABCT),a Expozebu.
“O tabapuã da Água Milagrosa tem 78 anos de seleção genética, o que garante a qualidade e potencial a qualquer rebanho. Temos processo de seleção de credibilidade, que tem apoio da ABCZ, o que valida o alto nível dos nossos animais. Para a Expozebu deste ano, estamos levando o melhor da raça, selecionamos animais com caráter reprodutivo diferenciado, características funcionais de ótimo potencial”, afirma Paulo Henrique Camargo, gerente de pecuária da Fazenda Água Milagrosa.
Lançamento de Livro
Em comemoração aos 80 anos do registro genealógico das raças zebuínas, a Fazenda Água Milagrosa aproveita a Expozebu 2018 para o lançamento do livro “Tabapuã, a história da raça genuinamente brasileira”,na sede da Associação Brasileira de Criadores de Tabapuã (ABCT), no Parque Fernando Costa.
“O livro traz, em detalhes, toda a história do zebu mais precoce do Brasil, fruto de seleção genética apurada que a Água Milagrosa desenvolveu ao longo dos últimos anos. Traz todas as etapas, desde o início, em 1940, como teve origem o primeiro animal Tabapuã até os dias de hoje, com os estudos realizados, o investimento pesado em tecnologia, genética, seleção einfraestrutura, capitaneado primeiro pela família Ortenblad e imortalizado por Fábio Zucchi Rodas e sua esposa, Maria Teresa. Com certeza é uma obra que será referência para pesquisas sobre a raça”, finaliza Paulo Henrique.
Com 25 capítulos distribuídos em 80 páginas, a obra, escrita pelos jornalistas Raul Marques e Bruno Xavier, conta a história do gado Tabapuã, desde a origem, que levou ao aperfeiçoamento genético da raça (considerada a primeira originária do Brasil), à projeção nacional pelo visionário Fábio ZucchiRodas.
“Esse livro retrata todo o trabalho de vida dos Ortenblad e evolução da raça preconizada e idealizada por meu pai, que deu origem a uma nova raça, hoje considerada um dos zebus mais completos do País. A obra é um marco na história da Água Milagrosa, pois agrega todos os conhecimentos sobre o Tabapuã”, expõe Sarita.
Para elaboração da obra, os autores contaram com a contribuição por meio de depoimentos e material de pesquisa de colaboradores da Fazenda e do Grupo Junqueira Rodas.