//As Mulheres no Agro: Ontem, Hoje e construindo o Amanhã

As Mulheres no Agro: Ontem, Hoje e construindo o Amanhã

Ana Paula Silva

Todo dia 08 de março é celebrado o Dia Internacional das Mulheres, talvez por isso seja um momento de conversas, pensamentos e reflexões sobre o temapara muitas de nós.

Nesse ano, meus pensamentos me fizeram relembrara minha escolha de profissão há muitos anos. Nasci no litoral de São Paulo e cresci morando em cidades do interior do ES e BA, o que sempre me proporcionou contato muito próximo com a natureza.  A vontade de ser Engenheira Agrônoma veio,então, naturalmente, tanto que nem me lembro de ter pensado em ser outra coisa na vida. Desde que me entendo por gente, dizia para qualquer um que perguntasse que iria estudar “agronomia” quando crescesse.

O papo de criança virou assunto sério quando fui para MG estudar na Universidade Federal de Viçosa. Mas a UFV, além de abrir as portas e ajudar a dar meus primeiros passos em direção à profissão que escolhi, também me mostrou que na Agronomia e, talvez, em quase todos os cursos ligados à área de ciências agrárias, os alunos em número significativamente maior eram do sexo masculino.  Essa diferença percebida na universidade tornou-se ainda mais concreta depois da formatura, em plena alvorada do século 21,quando as mulheres, na área agrícola, eram mesmo uma minoria.

Os desafios para quem trabalha com agricultura são muito grandes. No exercício de nossas profissões somos desafiados tecnicamente, fisicamente e mentalmente quase todos os dias, porque plantas, animais, clima e muitos outros fatores relacionados com nosso trabalho não sabem o que é sábado, domingo e muito menos feriado.

E, quando se soma a tudo isso o fato de ser mulher,aí enfrentamos também alguns agravantes,como descrença, desrespeito, desconfiança, assédio e até diferença salarial. Porque nós, que trabalhamos na área agrícola,não somos diferentes das mulheres que atuam em outras profissões. Buscamos, com muito trabalho, o respeito e a equidade como parte do nosso cotidiano.

A boa notícia é que ano após ano vem crescendo o número de mulheres trabalhando em áreas ligadas à agricultura. Hoje, somos mais presentes, mais vistas e, principalmente, mais respeitadas. Um exemplo disso é a Engenheira Agrônoma Tereza Cristina, que teve sua formação na Universidade Federal de Viçosa e hoje é a ministra titular do Ministério da Agricultura (MAPA).

Mas, se ainda hoje encontramos desafios e dificuldades, como deve ter sido há mais de 100 anos, na época em que estudou a pioneira na profissão por aqui?

A 1ª Engenheira Agrônoma formada no Brasil foi a paranaense Maria Eulália da Costa,diplomada em 1915. Ela se formou na então Escola de Agronomia e Veterinária, instituição que deu origem a atual Universidade Federal de Pelotas no Rio Grande do Sul.

Antes dela,somente algumas poucas mulheres haviam se graduado no país, mas em outros cursos, como o de Medicina e Direito.

Felizmente, depois delas,muitas outras mulheres conquistaram seus diplomas, principalmente a partir da década de 1950, em Agronomia, Medicina, Direito e em tantas outras profissões.

As nossas dificuldades no exercício de nossas profissões sempre foram enormes. Há 100 anos, a maior barreira era o ingresso na universidade e sair de lá com um diploma, pelo simples fato de ser mulher.

“Há 100 anos, a maior barreira era o ingresso na universidade e sair de lá com um diploma, pelo simples fato de ser mulher.”

Hoje, temos novas barreiras a transpor. Mas será que enfrentar desafios, ao invés de nos abater, não é justamente o que nos torna tão fortes? Aquilo que nos desafia é o que nos transforma a cada dia.

Para mim, a corajosa Agrônoma Maria Eulália passou a ser mais um exemplo de que impossível nessa vida é não tentar fazer algo quando realmente queremos. Ela é mais uma referência na minha profissão, assim como já eram JohannaDobereiner, Veridiana Vitoria Rossetti, Ana Maria Primavesi, Teresa Cristina e muitas outras mulheres corajosas sobre as quais falarei nas minhas próximas postagens.

Apesar dos avanços, ainda temos um longo caminho a percorrer, muitas áreas a explorar, barreiras a superar, mas já trilhamos um bom percurso. Mas sempre cabe a reflexão: quais são os pontos chaves que temos que desenvolver, a fim de deixarmos o papel de coadjuvantes para assumir de vez o protagonismo, ao lados dos homens, em nossas áreas de atuação?

“Apesar dos avanços, ainda temos um longo caminho a percorrer, muitas áreas a explorar, barreiras a superar, mas já trilhamos um bom percurso.”

Por hora, seguimos todos juntos: respeitando o passado, vivendo o hoje e trabalhando na construção do amanhã!

Ana Paula Silva – Engenheira Agrônoma com especialização na área de Marketing/Vendas. Além de atuar na área comercial/técnica, realiza treinamento de pessoas, desenvolve materiais técnicos e cria conteúdos, sempre com o intuito de contribuir com a transmissão de conhecimento sobre o setor e para o agrícola.

(Texto originalmente publicado na página do Linkedin da autora)