//As contribuições nem sempre aparentes do agronegócio

As contribuições nem sempre aparentes do agronegócio

Dr. Fábio de Salles Meirelles /Presidente do Sistema FAESP-SENAR-AR/SP

A visão urbana do agronegócio vem se alterando paulatinamente. Mas em que pese o seu maior reconhecimento, a real contribuição do setor para o País ainda é subestimada, tanto peIa população quanto pelos poderes públicos.

O Produto Interno Bruto (PlB) da agropecuária representa aproximadamente 5% da economia, mas o agronegócio, que inclui toda a cadeia de insumos, produção, beneficiamento, serviços, distribuição e outros, perfaz cerca de 22% do PIB brasileiro. Na geração de empregos, a participação setorial também é expressiva, pois cerca de ¼ dos empregos gerados no País estão vinculados ao agronegócio.

A agropecuária é uma atividade que alcança regiões longínquas, criando oportunidades de geração de renda e principalmente desenvolvimento social. Os dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o crescimento do PIB nos municípios são reveladores, pois as cidades que mais crescem no interior do Brasil são justamente aquelas que têm na agropecuária a sua sustentação.

Assim, ela exerce papel fundamental de vetor da interiorização do desenvolvimento. Do ponto de vista macroeconômico, outra estatística amplamente divulgada é o superávit na balança comercial do agronegócio, de cerca de US$75 bilhões/ano, sem o qual teríamos déficit e dificuldades para equilibrar as contas externas (balança de pagamentos).

Uma característica que escapa à percepção da maioria é que o setor tem crescido não apenas por impulso da demanda mundial, mas também, porque tem aumentado sua competitividade por meio do ganho de eficiência e produtividade graças ao uso intensivo de tecnologia, desde a produção de sementes, fertilizantes, defensivos, máquinas e equipamentos agrícolas até técnicas de processamento, armazenagem, distribuição e desenvolvimento de novos produtos a partir das matérias- primas agropecuárias.

A inovação e a adoção de novas tecnologias dentro da cadeia têm catalisado o ciclo de expansão do setor, permitindo contínuos recordes de produção que viabilizam o abastecimento nacional e a geração de excedentes exportáveis para mais de 150 países.

Para a safra 2016/17, a estimativa é de 238,8 milhões de toneladas de grãos, o que significa um crescimento de 28% ou 52,1 milhões de toneladas em relação à safra anterior. Dessa capacidade produtiva resulta uma contribuição muito relevante do agronegócio para o desenvolvimento nacional: o controle da inflação.

Em 2016, as condições climáticas reduziram a produção agropecuária e houve choque transitório nos preços dos alimentos. Contudo, em 2017, sem fenômenos meteorológicos adversos, a produção se expandiu e o efeito foi perceptível nos índices de inflação. De janeiro a agosto, o grupo Alimentação e Bebidas apresentou deflação de 1,56% no índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Portanto, o setor tem atuado nitidamente para ancorar a inflação brasileira em patamar próximo a 2%.

Considerando que a alimentação tem maior participação no orçamento doméstico das famílias de baixa renda, o efeito da deflação no bem-estar dos brasileiros é enorme. O resultado é duplo, pois equivale a uma redistribuição de renda. Além de viabilizar acesso à alimentação por menor custo, reduz a despesa das famílias nesse grupo de consumo, aumentando a disponibilidade da renda doméstica para outras finalidades.

A busca por eficiência é uma constante, pois o cenário atual impõe questões que irão transformar a agricultura do futuro. Destacam-se a necessidade de redução de emissão de gases causadores do efeito estufa, o uso racional do solo e da água, a segurança dos alimentos para a garantia da saúde da população em harmonia e equilíbrio com o meio ambiente, em legítimos processos sustentáveis de produção.

“A busca por eficiência é uma constante, pois o cenário atual impõe questões que irão transformar a agricultura do futuro.”

Os desafios são grandes e permanentes, mas podemos afirmar que o agronegócio brasileiro tem buscado soluções e adotado práticas que endereçam essas questões, com base em conhecimento científico e inovações. Com maior atenção ao setor, políticas assertivas e investimentos, em breve poderemos apresentar muitas outras contribuições sistêmicas do agronegócio ao desenvolvimento nacional.