//André Baby, é engenheiro florestal e  mestre em sustentabilidade. O Agro em 2022

André Baby, é engenheiro florestal e  mestre em sustentabilidade. O Agro em 2022

O Agro em 2022

É inevitável comparar o ano que inicia com o ano que findou, convém sempre olhar para 2021, seja para uma rápida reflexão, seja para uma profunda análise de oportunidades e riscos em relação a 2022. Nos dois anos, a pandemia da Covid-19 continua sendo uma variável obrigatória para todo o setor agropecuário. Ainda que o impacto da pandemia sobre o agronegócio tenha lá suas peculiaridades e o setor não foi completamente atingido, haverá ainda muitas interrogações como a dinâmica do país irá se desdobrar neste ano, sobretudo relacionada as questões ambientais, econômicas e as eleições.

 

Em 2022, segundo o CEPEA e a CNA, o agronegócio brasileiro deverá crescer até 5% a mais do que 2021. Neste sentido, caso se confirme as projeções de colheita, a safra de grãos deverá ser recorde com a confirmação da estimativa de 289 milhões de toneladas, portanto, uma quantidade em volume de 14% maior do que o ano passado.

 

Na pecuária a perspectiva não é diferente! Poderemos ter números ainda mais significativos, com previsões para o gado de corte em 22% de aumento no faturamento. A avicultura de corte, um setor que cresce vertiginosamente, poderemos chegar a quase 50% e os suínos próximos dos 20% em crescimento, são as estimativas das instituições de pesquisa e representação do setor.

 

Se por um lado as perspectivas econômicas são boas, há ainda alguns enfrentamentos a serem equacionados. A comunicação ainda não foi ajustada e quando há problemas para serem discutidos, como no caso recente sobre a “segunda sem carne”, a discordância aflorou e a oportunidade de se sentar à mesa, debater, negociar, mostrar o quanto a produção agropecuária é sustentável acabou se transformando em churrasco e piquete. Sim, eu sei, a crítica é dura e a reação dos produtores é passível de entendimento, mas é necessário que construamos outra forma de nos comunicar e mostrar para sociedade e para o mundo a sustentabilidade do atual modelo de produção do gado brasileiro.

 

É importante trabalhar adequadamente cada oportunidade, contrapondo inverdades e mostrar para o brasileiro e para o mundo que não se promove melhoria ambiental, social e em sustentabilidade com exclusão, como fez determinada instituição financeira.

 

Outro ponto que ainda incomodará o setor é a questão ambiental brasileira. É necessário que as cadeias produtivas continuem promovendo transparência e rastreabilidade, envolvendo sempre a sociedade e o consumidor, assim, acredito eu, que opiniões diversas, concorrências desleais e restrições comerciais irão ter melhor entendimento sobre o agronegócio brasileiro e saber separar quem produz e respeita as leis brasileiras e quem são os ilegais que constituem uma parcela ínfima do setor no Brasil.

 

Além disso desses pontos, a pauta da sustentabilidade (ESG – sigla em inglês para ambiental, social e governança) permanecerá em voga, assim como foi muito discutida na COP-26 realizada em Glasgow, na Escócia. Portanto, não pensem que foi ou será apenas uma moda. É tempo de atender ao chamado para um novo modelo de produção atrelado ao “triple-bottom-line”, palavra em inglês que nos remete ao tripé da sustentabilidade que é o meio ambiente, o social e o econômico. O olhar holístico e complexo para fora dos portões das empresas ou das porteiras das fazendas fará sempre parte dos ganhos e das perdas daqui em diante, então, aprimorem, inovem, invistam em sustentabilidade, envolvam os interessados (stakeholders), que o retorno logo baterá à porta!

 

Sobre os aspectos de custo de produção, devemos enfrentar ainda os altos preços, os insumos deverão continuar mais caros, as margens de lucros devem estar limitadas. Neste contexto, deveremos lidar com um ano muito atrelado a políticas externas cambiais, eleições internas e à desvalorização da nossa moeda brasileira, o real. 

 

Neste mesmo sentido, estudiosos chamam a atenção para o comportamento dos consumidores e relatam que os hábitos de consumo da população em relação aos alimentos sofreram e sofrerão grandes alterações. Por exemplo, o setor de lácteos serve como análise microeconômica relacionados aos aspectos base da economia a oferta, a demanda e os preços. Com a queda na renda das famílias, itens que não compõem a cesta básica começarão a passar mais tempo nas prateleiras do supermercado.

 

Sim, produzir e comercializar nunca foi fácil para o homem do campo, sua família, sua empresa. Entretanto, manter os riscos administrativos, sociais, econômicos, climáticos, políticos, todos mapeados dará a oportunidade de enxergar novas alternativas de negócios, mercados e até lucros.

 

Que todos nós tenhamos um 2022 mais produtivo e sustentável, com os riscos controlados e os problemas cada vez mais saneados, assim, teremos um oceano azul para navegar, ou seja, terra fértil para prosperar!